Coluna do Bob Faria: ‘O pato e a bola’ – Superesportes

foto: Gladyston Rodrigues/EM/DAPress

E lá se vão 30 anos desde que os Pato Fu convocavam todo mundo a pular, sem se preocupar com as consequências, afinal a Unimed é quem iria pagar…

Meus amigos e irmãos da vida toda, John, Ricardo e Fernanda, popularmente conhecidos no mundo todo como os Pato Fu, estão saindo em uma longa turnê. Não é uma turnê qualquer, mas uma para comemorar os 30 anos de carreira da banda. Trinta anos! Meu Deus, como o tempo, esse mano véio, passou rápido.

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Ainda ontem o John me chamava no seu apartamento para contar sua ideia de seguir o nosso projeto paralelo, chamado Sustados por um Gesto, com uma menina que havia conhecido e com o Rick tocando baixo. O que achei sensacional porque eles se encaixariam muito melhor na ideia dele do que eu. E de fato se encaixaram e formaram aquela que para mim é a melhor banda brasileira dos últimos 30 anos!Pois bem, naquela época eu já transitava entre trabalhos em rádio e sonhos em música. E já naquela época o John achava o meu trabalho em rádio meio estranho, o que ficou eternizado nas entrelinhas de “Spock”, mais uma das obras-primas da discografia Fu.Mas o que me lembro com clareza é exatamente o que à época o John e a Fernanda viram com clarividência. Que o futebol tem um apelo emocional inigualável. E, por conta disso, começaram a se apresentar usando camisas de futebol! Mais uma grande sacada.As pessoas não conheciam as canções, não entendiam o conceito daquela banda com 3 pessoas e nenhum baterista, com uma menina cantando com voz calminha sobre uma base estranha, recheada de sons esquisitos e transições mais estranhas ainda, mas que geravam uma certa hipnose. Mas uma coisa criava de cara uma empatia na plateia, as camisas dos times de futebol. Símbolos sagrados envergados com respeito e com a clara proposição de abrir o coração do público. E funcionou. Muito bem. E lá se vão 30 anos desde que (muito antes de Sandy e Júnior) os Pato Fu convocavam todo mundo a pular, sem se preocupar com as consequências, afinal a Unimed é quem iria pagar…Escrevo para refletirmos sobre o poder destas marcas. Como os clubes de futebol exercem esse fascínio instantâneo e criam empatia pelo simples exibir de um pendão, pela simples menção de um nome, pela sugestão de um escudo.Não existe indústria no mundo onde os players (e neste caso, o termo se aplica ainda mais) consiga os níveis de engajamento que o futebol consegue. É a única atividade econômica/cultural no planeta, que baseada em bens intangíveis, consegue, não importa quanta bobagem faça, que seus clientes simplesmente não abandonem a marca e continuem consumindo, por décadas e décadas, geração após geração.Estas palavras fazem sentido hoje, como faziam há 30 anos. Nada mudou na relação de amor entre os torcedores e seus times de futebol. É uma raiz tão profunda e emaranhada na vida de tantos milhões de pessoas que provavelmente, continuarão a fazer sentido daqui a 30 anos. Enquanto houver uma bola e uma esperança de gol, de quem quer que seja.Então vamos agradecer ao tempo, e pedir que leve a dor embora, que traga sopros de felicidade, e que nos ensine a ter paciência. Porque nossas folhas podem ressecar e cair muitas vezes durante a vida, mas nossas raízes perduram.O tempo, como descreveu meu mano véio, nem sempre zune como um novo sedã. Mas é amigo e com sorte não nos derruba no final.

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