Instituto de Medicina Legal atingiu a marca de 140 atendimentos mensais; iniciativa agiliza produção de provas e garante acolhimento humanizado às vítimas
Desde março de 2023, a presença da Polícia Científica dentro da Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande (MS), tem transformado a resposta do Estado à violência contra a mulher. A mudança permitiu que o Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL) realizasse perícias no mesmo espaço em que a vítima é acolhida, registra ocorrência e recebe atendimento psicológico — o que reduziu o tempo entre a denúncia e a produção de provas técnicas.
O impacto é visível nos números. Em 2024, a unidade do IMOL na Casa da Mulher registrava uma média de 60 atendimentos mensais. Em 2025, esse número mais que dobrou, com 144 atendimentos apenas em maio.
Segundo a perita médica-legista Monique Massuda, que atua na unidade desde sua criação, a integração acelera os trâmites e fortalece as investigações. “A missão da Polícia Científica é garantir à mulher que sua queixa não será ignorada. O laudo pericial é decisivo nesse caminho, porque é com ele que podemos responsabilizar quem cometeu a violência ou esclarecer quando não houve crime”, afirma.
Atendimento técnico com acolhimento
Além da produção de provas, o foco também está no atendimento humanizado. “As vítimas chegam emocionalmente abaladas, depois de passarem por delegacia, psicóloga, assistente social. Explico todo o procedimento, deixo claro que não precisam reviver tudo em detalhes. O controle é delas”, relata Monique.
O preparo começa antes mesmo do exame pericial. A perita estuda o boletim de ocorrência para evitar perguntas repetidas, e reforça à vítima que ela pode interromper o exame a qualquer momento. “Nosso papel é técnico, mas também é humano. Isso muda a forma como essa mulher encara o processo”, diz.
Modelo de atendimento se expande no Estado
A unidade do IMOL na Casa da Mulher é a mais recente de uma série de ações voltadas ao atendimento especializado em Mato Grosso do Sul. Desde 2017, a capital já conta com a Sala Lilás, ambiente exclusivo para mulheres, meninas e crianças vítimas de violência. O modelo também foi implementado em Amambai, em 2022, dentro da Unidade Regional de Perícia e Identificação (URPI).
Em Dourados, o projeto Acalento leva a perícia para dentro do Hospital Universitário da UFGD, unindo atendimento médico, psicológico, policial e pericial no mesmo espaço.
Para o diretor do IMOL, perito médico-legista Sílvio Lemos, essas estruturas fortalecem a rede de proteção e aumentam a eficácia da resposta do Estado. “Ter a perícia dentro da Casa da Mulher Brasileira faz diferença. Garante que a materialização do crime aconteça com agilidade, segurança e respeito”, afirma.
Cada laudo, um passo para a responsabilização
A atuação da Polícia Científica começa na cena do crime e segue até o tribunal. Equipes especializadas isolam a área, registram vestígios e coletam materiais que podem se transformar em provas técnicas, como DNA, exames toxicológicos ou estudos balísticos.
No caso de vítimas sobreviventes, o atendimento é feito com privacidade, escuta qualificada e atenção ao trauma. Já nas situações em que há morte, a necropsia segue o mesmo padrão de respeito e rigor técnico.
Durante o Agosto Lilás, campanha nacional de combate à violência contra a mulher, o exemplo de Mato Grosso do Sul chama atenção para a importância da integração entre instituições. “Cada laudo emitido é um passo para responsabilizar quem cometeu o crime”, conclui Lemos.
Maria Ester Rossoni, Comunicação PCi