É fácil identificá-los: são as mãos que afagam o ombro, amparam a cabeça, secam as lágrimas e amenizam a dor à beira do leito. Constituem mais da metade (51%) da força de trabalho da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) – que soma quase 13 mil servidores. Juntos, formam uma categoria que contribui, diariamente, para o bem-estar, o cuidado e a assistência na saúde pública mineira.
Presentes em todas as etapas da atenção à saúde, profissionais da enfermagem são mais do que um extenso contingente de pessoas qualificadas para o atendimento aos pacientes.
São mulheres e homens que têm como uma das principais funções levar conforto físico e emocional àqueles que estão por um curto prazo ou em longa permanência nas unidades hospitalares da Fhemig – a maior rede de hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Majoritariamente do gênero feminino – 5.459 ou 85,4% do total de profissionais da categoria (os outros 14,6%, ou 931 pessoas, são do gênero masculino) – auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros agregam mais de 6 mil intelectos e corações dedicados a recuperar a saúde e a salvar as vidas das centenas de pacientes que ingressam, todos os dias, nas 17 unidades hospitalares da Rede Fhemig.
Elas estão distribuídas por seis cidades do interior do estado – Barbacena, Patos de Minas, Juiz de Fora, Três Corações, Ubá e Bambuí, como também por Belo Horizonte e região metropolitana – Betim.
Além disso, auxiliares e técnicos correspondem a 81% (5.179 indivíduos) daqueles que atuam na enfermagem, enquanto enfermeiros são 19% (1.211).
Familiarizado com essa realidade, o enfermeiro e coordenador de Enfermagem e Equipe Multiprofissional da Diretoria Assistencial da Fhemig, Arthur Felipe Ribeiro Mendes, ressalta que a importância dos profissionais da enfermagem reside na prestação de cuidados diretos aos pacientes.
“O grande diferencial são suas habilidades para fornecer cuidados humanizados e holísticos, que consideram não apenas as necessidades físicas, mas também emocionais e psicossociais dos pacientes, além de sua capacidade de trabalhar em equipe”, detalha.
Inclinação natural
Arthur lembra que, desde sua infância, tinha interesse e facilidade em cuidar de outras pessoas. “A enfermagem surgiu como uma profissão que me permitiu expressar essa vocação de forma efetiva”, sublinha o coordenador.
Dentro dos uniformes e debaixo das toucas – às vezes sóbrias, muitas vezes coloridas e até divertidas, estão muitos que encontram, na prática cotidiana da enfermagem, um sentido maior tanto para suas vidas profissionais quanto pessoais.
Com a experiência dos seus 64 anos de idade e 34 de profissão, Manoel Freitas de Gouvea concluiu a graduação em enfermagem e atua como auxiliar de enfermagem na Casa de Saúde Santa Izabel, em Betim. Ele é casado e pai de um filho.
Único em sua família que trabalha na área, Manoel conta que teve o apoio da mãe para ingressar no campo da saúde pública. “Eu queria seguir carreira na medicina, minha mãe sempre me incentivou. Ela queria um médico na família”, recorda.
Manoel também acredita que, para atuar na enfermagem, é necessário ter uma inclinação natural, como salientado por Arthur. “A dor do meu paciente gera em mim uma vontade grande de curar a doença dele, porque sofro junto”, confessa.
Saber ouvir
Também com 34 anos de serviço, o técnico de enfermagem da Casa de Saúde Santa Fé – localizada em Três Corações, Jorge Henrique Rocha, 52 anos, é casado com a técnica de enfermagem Kátia Maynara, 36 anos, com quem tem dois filhos. Ele conta que escolheu a profissão quando ainda cumpria o serviço obrigatório no Exército.
“Quando servi, descobri que, na verdade, a enfermagem é que nos escolhe. Somos presenteados com os dons de Deus para cuidar. Minha profissão é ajudar, usando conhecimentos e dedicação”, resume.
A técnica de enfermagem Maria de Lourdes Martins de Almeida, 50 anos, trabalha na Maternidade Odete Valadares. Na enfermagem há 22 anos e mãe de um filho, ela também é graduada em enfermagem e atua como preceptora do estágio acadêmico da unidade, além de ser consultora de amamentação.
Maria de Lourdes defende a ideia de que, para atuar na área da enfermagem, é necessário colocar-se no lugar do outro e saber ouvir.
“Devemos, acima de tudo, entregar o nosso caminho e o nosso trabalho nas mãos de Deus. Lidar com a dor e cuidar do outro é uma tarefa nada fácil, afinal lidamos com o amor da vida de alguém. Você tem que estar emocionalmente bem para cuidar da saúde de outra pessoa. O atendimento humanizado para o paciente e o cuidado com a sua família fazem uma diferença enorme para tudo dar certo no final”, ensina a preceptora.
Futuro promissor
Na sua opinião, a enfermagem caminha rumo a um futuro promissor, “com destaque cada vez maior para as inovações tecnológicas e o aumento da especialização na área”, assegura Maria de Lourdes.
Assim como ela, a também técnica de enfermagem Paula Aparecida Braga Silvério, 39 anos de idade e 22 anos de atuação profissional, vislumbra um futuro promissor para o setor.
Casada, ela tem dois filhos e trabalha na Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (CIHDOT) para Transplantes do Hospital Regional Antônio Dias, em Patos de Minas. “Vejo um futuro marcado pelo aumento da especialização e pela valorização do nosso trabalho. A enfermagem acumula força e responsabilidades”, afirma.
Paula conta que, desde criança, nutria o desejo de cuidar de pessoas doentes. “Sempre gostei de ajudar e de proporcionar conforto às pessoas em momentos difíceis. Além disso, influenciei minhas primas a trabalharem na área da saúde e fui a primeira a fazer o curso técnico de enfermagem”, pontua.
Fazer a diferença
O enfermeiro Rafael Vale Vieira, 37 anos, trabalha na Casa de Saúde São Francisco de Assis, em Bambuí. Com 13 anos de profissão, ele é casado e pai de três filhos. “Antes do meu nascimento, minha avó trabalhava em um hospital. O mais gratificante nessa profissão é ouvir um paciente e seu familiar dizerem que você fez a diferença na vida deles”, conta.
De acordo com Rafael, o papel do enfermeiro é muito amplo. “Está presente desde a organização, no gerenciamento, acolhimento e na assistência direta ao paciente e a seus familiares”, lista.
Com 24 anos de carreira, Raimundo Nonato Paiva Ferreira, 62 anos, é técnico de enfermagem na Unidade de Emergência do Hospital Júlia Kubitschek, em Belo Horizonte. Divorciado e pai de dois filhos, ele promoveu uma mudança significativa em sua vida profissional após perder o emprego de metalúrgico.
“Aprendi, desde cedo, que não importa o que você faça, deve fazer da melhor forma possível. Na enfermagem, se colocar no lugar do outro e dar o seu melhor é fundamental para um bom atendimento. Estar diariamente diante da dor do outro requer empatia, respeito e compaixão pelo seu sofrimento”, afirma.
Ser útil e ajudar
Rosália do Carmo Mendes Souza, 56 anos, é enfermeira há 11 anos e também trabalha na Unidade de Emergência do Hospital Júlia Kubitschek. Viúva e mãe de um filho, ela escolheu a enfermagem por acreditar que poderia ser útil ao próximo e ajudar a cuidar de vidas. “Procuro exercer sempre a empatia. É gratificante ver a melhoria do paciente e seu retorno ao lar”, conta.
Com dez anos de serviço, a técnica de enfermagem Valéria Barbosa Antunes Gomes, 44 anos, atua na Clínica Médica do Hospital Alberto Cavalcanti, em Belo Horizonte. Ela tem três filhos e está em uma união estável. “Escolhi essa profissão porque comecei a trabalhar como cuidadora de uma idosa. Cuidar do outro exige muita dedicação e paciência”, assegura.
Maioria global
Assim como no Brasil, nos demais países, os profissionais da enfermagem constituem maioria. Na região das Américas, 56% dos que trabalham no setor da saúde pertencem a essa categoria e mais de 80% são do gênero feminino.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), os profissionais desse grupo atuam na linha de frente da prevenção de doenças, na promoção e na gestão de saúde.
Ainda de acordo com a Opas, em diversas circunstâncias, eles são os heróis anônimos dos serviços de saúde e da resposta às emergências.
Dados de uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que a enfermagem foi a precursora do trabalho feminino institucionalizado na saúde.
A pesquisa revela que, dos mais de 2,2 milhões de profissionais da enfermagem que atuam no país, 85% são mulheres.
Dia internacional
O Dia Internacional da Enfermagem é comemorado em 12/5 em homenagem à inglesa Florence Nightingale, tida como a criadora da enfermagem moderna, após fundar a primeira Escola de Enfermagem secular do mundo, em seu país de origem, no ano de 1860.
No Brasil, paralelamente à data, é comemorada também a Semana da Enfermagem – que tem início no dia 12/5 e termina em 20/5, quando também é celebrado o Dia do Auxiliar e do Técnico de Enfermagem.