Takashi Morita celebra 100 anos na Etec de Santo Amaro com festa entre alunos, professores, parlamentares, amigos e admiradores
A segunda-feira luminosa prenunciava uma semana agradável de verão. Às 8h14, o soldado da Guarda Imperial Takashi Morita andava pela rua com doze auxiliares. Às 8h15, um violento deslocamento de ar arremessou o guarda vários metros à frente. Seguiram-se um clarão, e então uma escuridão úmida e densa – uma chuva que queimava como fogo.
No dia 6 de agosto de 1945, quando a bomba atômica denominada Little Boy foi jogada sobre Hiroshima, em um dos eventos mais traumáticos do século 20, a vida do soldado Takashi Morita, de 21 anos, se transformaria radicalmente.
Patrono da Etec de Santo Amaro
A Escola Técnica Estadual (Etec) de Santo Amaro, na capital, criada em 2009, passou a se chamar Etec Takashi Morita, em 2019, como homenagem ao sobrevivente.
A recepção contou com a presença de toda a comunidade escolar e de figuras públicas como o Cônsul Geral do Japão Shimizu Toru, parlamentares – os vereadores George Hato e Celso Giannazi, bem como o deputado estadual Carlos Giannazi – além de outros sobreviventes. Kunihiko Bonkohara, de 83 anos, é um deles e participou da peça Os Três Sobreviventes de Hiroshima, ao lado de Morita e de Junko Watanabe em várias ocasiões.
A diretora-superintendente do Centro Paula Souza (CPS), Laura Laganá, enviou uma mensagem lida na ocasião, em que diz, entras passagens emocionadas: “Ao olharmos para trás, vemos os capítulos de uma vida rica em significado e realizações. Desde a juventude até os dias de hoje, o senhor testemunhou momentos históricos e transformações que marcaram o mundo. Suas vivências nos fazem refletir sobre o passado e o que precisamos fazer para construir um futuro melhor.”
Personagem ilustre
Takeshi Morita é um hibakusha – pessoa afetada pela explosão – termo em japonês escolhido no lugar de “sobrevivente”. Ele permaneceu em Hiroshima por doze anos, empenhado na reconstrução da cidade onde haviam morrido, apenas no ano da explosão, mais de 60 mil pessoas. Nos anos posteriores, a contagem chegou a 130 mil mortos.
Em 1956, com a mulher, dois filhos e um diagnóstico de leucemia, ele embarcou rumo ao Porto de Santos e de lá rumou para a capital.
Há 40 anos, fundou a Associação Hibakusha Brasil pela Paz, que reuniu também as vítimas de Nagasaki, onde outra bomba atômica explodiu três dias depois de Hiroshima. Em sessão solene, Morita recebeu o título de Cidadão Paulistano em 2015. Ao lado de outros dois hibakushas, foi homenageado, em 2019, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Morita escreveu o livro A Última Mensagem de Hiroshima: O que Vi e Como Sobrevivi à Bomba Atômica, em 2017. “A edição é repleta de fotos que só ficaram intactas porque Morita as deixou em Tóquio, quando fez sua preparação para ser um soldado da Guarda Imperial. Com isso, as imagens escaparam da explosão”, conta André Lopes Loula, professor de História na Etec e amigo de Morita.
Estudantes em festa
Flores naturais, mil tsurus (pássaros de origami) formando um buquê, um desenho feito à mão e outras lembranças foram presenteadas pelos alunos para o mestre que não dá aulas, mas para os jovens é também um professor, de quem recebem lições sobre a importância de defender um mundo pacífico. “Aprendi que nunca mais deveria pensar em alguém como inimigo. A lógica da guerra não dá espaço para a dignidade humana”. O conceito proposto pelo patrono ilustra cartazes nas dependências da Etec.
O pacifista Takashi Morita é mais que um patrono, é um ídolo para estudantes e professores, que sobreviveu à explosão e às consequências nefastas. A leucemia, doença que tratou por duas vezes antes de sair do Japão, em terras brasileiras não se manifestou.
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