foto: Gladyston Rodrigues/EM/DAPress
Bob Faria, colunista do Superesportes
Vez ou outra me pego pensando sobre a felicidade. E cada vez mais me convenço de que felicidade e momentos felizes são duas coisas completamente diferentes. A felicidade é um conceito utópico, metafísico, monástico e para poucos iluminados. A maioria dos seres humanos jamais experimentará a felicidade plena. Porém, e demos graças por isso, todos nós somos capazes de experimentar momentos de felicidade. E é fácil identificá-los. São aqueles momentos que nós gostaríamos que durassem um pouco mais, que nos trazem a sensação de que a vida pode ser boa e generosa. Um abraço gostoso, um beijo retribuído, um olhar tranquilo, ver alguém que a gente gosta sorrir… Essas coisas. Alguns de nós vivem estes momentos mais raramente, outros mais abundantemente, mas todos temos potencial.
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Gosto de pensar isso especialmente nos meus momentos de angústia. Me dá esperança de que vai passar. Pode demorar, pode até parecer uma eternidade, mas a crença de que a vida pulsa me mantém de pé e faz a roda girar.Vocês sabem como costumo fazer paralelos entre a vida e o esporte. Eu já disse várias vezes como enxergo o futebol como simulacro não só das relações humanas, mas do nosso próprio comportamento individual. Como vamos ao ataque às vezes, a exemplo de um time confiante, outras vezes, como uma equipe receosa por suas limitações, nos fechamos na defesa. Como temos momentos de iluminação como numa jogada individual, e vergonha como se tomássemos um gol por baixo das pernas. E assim a vida se constrói, como num jogo, em fases defensiva, de transição e de ataque.Tudo isso para dizer o quanto é importante desfrutar dos bons momentos. Quando vem a vitória, quando vem o espetáculo, quando o sorriso se espalha pelo seu lado das arquibancadas, quando o gol faz explodir a boa emoção que há em você. Esses são momentos de felicidade. E estatisticamente, são mais raros do que os de frustração. O que é absolutamente normal.Nelson Motta escreveu numa linda canção, que “Não haveria som, se não houvesse o silêncio. Não haveria luz se não fosse a escuridão”. Eu digo que não haveria grito de gol se a bola estivesse na rede o tempo todo. Não haveria campeão se todos chegassem à frente ao mesmo tempo. A vitória, assim como o momento feliz, deve ser desfrutada, porque não sabemos quando haverá outro. Ou mesmo se haverá.O problema, no universo do futebol, é que da mesma forma que a alegria contagia no momento de vitória, de felicidade e as pessoas se abraçam, pulam e gritam juntas, no momento ruim o ódio se espalha. E quem não sabe lidar com sentimentos tão naturais quanto frustração e tristeza, transforma isso em violência contra quem não tem nada a ver com a história. Violência verbal e física. E o que é pior, impune.Pensemos sobre felicidade. Ninguém é feliz o tempo todo. Pensamos sobre sofrimento. Ninguém é infeliz o tempo todo. Mas somos humanos o tempo todo e temos o dever de nos respeitar. Na felicidade e na dor.